Nesta terça-feira, dia 19/02/2013, foi publicado no jornal Folha de São Paulo o artigo do presidente do Conselho Federal de
Psicologia (CFP) e Especialista
em Saúde Pública pela USP Humberto Verona, no que diz respeito a internação compulsória. Concordo com ele plenamente, vale a pena ler!!!
Desde o fim do ano passado,
veículos de comunicação têm noticiado a expansão da política de internação
compulsória de crianças, adolescentes e adultos usuários de crack no Rio de
Janeiro e em São Paulo.
Tratar o consumo de crack como
uma epidemia, além de ser um equívoco de interpretação dos dados
epidemiológicos, que não demonstram isto, provoca uma reação social que
instaura o medo e autoriza a violência e a arbitrariedade, justificando medidas
autoritárias, coercitivas e higienistas.
Para o Conselho Federal de
Psicologia (CFP), usar a internação compulsória como medida emergencial para
tratamento de drogas revela a falta de cuidado e de atenção à saúde dos
usuários, além de reafirmar a falha do Estado na criação e aplicação de
políticas públicas.
Acionar políticas emergenciais
como internar involuntariamente implica em atualizar modelos de intervenção
amplamente criticados por profissionais, pesquisadores na área de ciências
humanas e sociais e pelos movimentos sociais, como o da luta antimanicomial.
É preciso superar o mito de que o
usuário de drogas é perigoso, perdido, irrecuperável ou um monstro.
Tais ideias provocam uma urgência
de respostas mágicas, levam a sociedade a demandar medidas políticas sem a
prévia reflexão necessária, justificando e legitimando a violência contra estes
indivíduos.
O usuário precisa do cuidado em
liberdade, por meio de uma rede intersetorial e de políticas públicas que
caminhem para a reinserção na sociedade, não que aumentem as disparidades
sociais, a marginalização.
A política pública de saúde já
desenvolveu dispositivos clínicos e assistenciais como a redução de danos, os
consultórios de rua, os Centros de Atenção Psicossociais Álcool e Drogas
(Caps-Ad) e outros recursos que são menos invasivos e violentos. Eles têm
mostrado resultados importantes na abordagem e no cuidado com os usuários,
respeitando sua autonomia e liberdade.
O modelo de atenção aos usuários
de drogas deve ser pautado na lei 10.216 de 2001, que redireciona o modelo
assistencial em saúde mental. Isso significa que instituições asilares, como as
comunidades terapêuticas, não devem ser opção para o tratamento com recursos
públicos.
A internação compulsória aparece
como algo que resolve magicamente todos os problemas. Com a excessiva
propaganda governamental, corre o risco de virar uma prática corriqueira e,
portanto, banalizada. Como medida de impacto coletivo, essa política tem se
mostrado um fracasso. Os usuários são levados, isolados, medicalizados e depois
voltam para um espaço social conturbado, difícil e limitador.
Coerente com o seu compromisso
com os direitos humanos, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) é uma das 53
entidades que compõem a Frente Nacional de Drogas e Direitos Humanos (FNDDH).
A frente luta pela defesa de uma
política sobre drogas no Brasil baseada na garantia dos direitos humanos e
sociais –não na repressão policial, em ações higienizadoras e criminalizadoras
da pobreza.
O CFP, junto com a frente, considera urgente a
discussão da descriminalização das drogas. Falamos do usuário, mas não falamos
da política proibicionista. É importante lembrar que medidas como a internação
compulsória ajudam a criminalizar e a ampliar o caráter punitivo aos usuários
drogas.
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